Pastor Luiz Antônio: Conheça a trajetória do homem que se tornou pastor e acabou indiciado por crime sexual

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    Luiz Antônio da Silva: um homem de Deus

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    Mateus 23: 26,27

    “Fariseu que não enxerga! Limpa, antes de tudo, o interior do copo e do prato, para que da mesma forma, o exterior fique limpo! Ai de vós, doutores da Lei e fariseus, hipócritas! Porque sois parecidos aos túmulos caiados: com bela aparência por fora, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos e toda espécie de imundície!”.

    A primeira vez que o Fan F1 usou este versículo bíblico para iniciar uma matéria foi no dia 18 de março deste ano. A partir dali se tornava público um dos maiores escândalos religiosos de Sergipe.

    Sendo investigados pela polícia, dois pastores evangélicos, Luiz Antônio da Silva e Lucas Abreu da Silva, pai e filho respectivamente. A matéria feita pelo Fan F1 em março apresentou depoimentos de mulheres que alegam ter sido vítimas de crimes sexuais cometidos pelos dois líderes religiosos.

    Dias depois, elas formalizaram a acusação junto à polícia, que instaurou inquérito policial, concluído na semana passada.

    Segundo o procedimento inquisitorial, Lucas foi indiciado pelos crimes de assédio sexual e estupro de vulnerável. Já o seu pai, o pastor Luiz Antônio, superintendente estadual da Igreja do Evangelho Quadrangular (IEQ), foi indiciado pelo crime de violação sexual mediante fraude. As vítimas seriam mulheres que frequentavam templos da IEQ em Aracaju.

    Escândalos religiosos envolvendo crimes sexuais não são situações raras. No Brasil, um dos casos mais emblemáticos foi o do médium conhecido como João Teixeira de Faria, o “João de Deus”.

    Médium desde os nove anos de idade, João era extremamente conhecido por suas “cirurgias espirituais”, trabalhos que o levaram ao reconhecimento internacional sendo entrevistado até mesmo pela Oprah e a atender importantes figuras, políticos e celebridades.

    Os primeiros depoimentos contra ele, surgiram através da imprensa, no programa Conversa com Bial, da Rede Globo. Os crimes sexuais teriam acontecido na Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia (GO), o grande centro religioso de João de Deus, capaz de movimentar completamente a economia da cidade.

    Ainda que em menor proporção, é possível observar semelhanças entre o caso de João de Deus e o do pastor Luiz Antônio.

    Luiz e a esposa ainda são os maiores líderes da Igreja do Evangelho Quadrangular em Sergipe. Chegaram de São Paulo a Sergipe há 25 anos. Na época, a congregação tinha apenas cinco igrejas no Estado, hoje são 120, quase todas lideradas por pastores formados por Luiz Antônio.

    A primeira sede estadual funcionava em um templo simples, na avenida São Paulo, no bairro Siqueira Campos, na Zona Oeste de Aracaju. A igreja, que realizava a maior encenação da Paixão do Cristo em Sergipe, durante a Semana Santa, continuava a atrair cada vez mais fiéis. Uma nova sede foi construída no mesmo bairro, mas já bem maior que a primeira.

    A apoteose acontece quando a Quadrangular inaugura, há 20 anos, seu maior templo no bairro Jardins, área nobre da cidade. Uma igreja moderna, com pastores desenvolvendo uma linguagem atual e grupos de louvores com apresentações semelhantes a um Show Business. A receita perfeita para atrair cada vez mais fiéis, tanto que, aos domingos, vários cultos são realizados, uma forma de acomodar a todos.

    Luiz x João

    O perfil calmo, sereno e carismático estão entre as principais características que levam a uma comparação entre Luiz Antônio e João de Deus.

    Segundo apurado pela polícia, João de Deus falava sobre a família e a vida das vítimas enquanto cometia os abusos, com suas técnicas de leitura fria, fazia com que as vítimas ficassem ainda mais confusas e em choque com os acontecidos, se perguntando se aquilo fazia parte do processo ou era realmente uma situação de abuso.

    No inquérito que investigou os pastores Luiz Antônio e Lucas Abreu, as vítimas também relataram a existência de confusão mental diante dos crimes sexuais cuja prática é imputada aos líderes religiosos delas.

    Em ambos os casos, alguns crimes teriam acontecido há mais de 10 anos e ganharam repercussão através da imprensa. O medo de expor a situação e de cair no descrédito é minimizado quando surgem novas denúncias, que abrem espaço para que os crimes sejam denunciados.

    Após o escândalo, João de Deus foi à casa João Inácio de Loyola e declarou: “irmãos e minhas queridas irmãs, agradeço a Deus por estar aqui. Quero cumprir a lei brasileira. Estou nas mãos da Justiça. O João de Deus ainda está vivo”.

    Já Luiz Antônio, depois de um mês em silêncio, publicou um vídeo nas redes sociais da igreja bastante emocionado dizendo: “Diante daquilo que vem sendo apresentado a meu respeito e a respeito do meu filho, a igreja também está aguardando todos os trâmites legais aos quais eu estou completamente sujeito, à disposição para que a gente possa prestar todos os esclarecimentos e trazer as verdades dos fatos”.

    Mistérios da fé

    No dia em que João de Deus fez o pronunciamento público na casa João Inácio de Loyola, repórteres e cinegrafistas que o aguardavam no local foram agredidos com socos e até mordidas. Alguns fiéis ameaçaram os profissionais de imprensa. “Vocês terão câncer e voltarão todos aqui para se curar. Vocês se arrependerão do que estão fazendo”, gritava uma mulher.

    Já na Igreja do Evangelho Quadrangular, no bairro Jardins, fiéis e seguranças montaram um “esquadrão de defesa a Luiz Antônio e ao culto que acontecia naquele momento”, o que, segundo Luiz Antônio, teria provocado a publicação do vídeo dele.

    O protesto terminou em uma confusão generalizada, e um radialista terminou agredido com um soco.

    O interessante nas duas situações, é que as acusações, seguido dos indiciamentos após a conclusão dos inquéritos, não abalam a fé de muitos fiéis, que não deixam de acreditar em seus líderes religiosos, minimizando os supostos crimes e orientando os outros a “olharem para Deus”.

    Para a psicóloga e psicanalista Petruska Passos, situações de poder atraem comportamentos condicionados, ou seja, estes indivíduos demonstram os sentimentos esperados por estas pessoas, podendo até mesmo manipulá-las.

    “Não existe uma ligação direta entre membros de igreja e desvios de conduta como pedofilia e abuso sexual de forma direta. O que sabemos é que situações de poder atraem pessoas com um funcionamento antissocial no sentido de não serem capazes de fazer empatia real e se colocar no lugar dos outros. Normalmente, o funcionamento desvirtuado acontece por uma incapacidade dos indivíduos de lidarem com sentimentos. A maioria aprende a imitar tristeza, alegria, amor para poderem conviver socialmente. Assim, elas sabem muito bem manipular, dissuadir, seduzir e encantar suas vítimas, pois dizem e fazem aquilo que a pessoa quer ouvir”, explica a psicanalista.

    Ela fala ainda sobre a sedução pelo poder, além da incapacidade de sentir culpa ou se colocar no lugar do outro.

    “No outro extremo, quando desejosas ou ameaçadas, utilizam dessa artimanha para impor ao outro o seu desejo e sua dominação. Por almejarem sempre cargos de poder, não é incomum serem chefes em grandes organizações, políticos, professores ou religiosos. Tudo que as coloque no poder as seduz. Essas pessoas vítimas de seu desejo e limitadas na capacidade de sentir culpa ou se colocar verdadeiramente no lugar do outro sofrem de uma condição que ainda não sabemos se é genética ou adquirida. Entendemos que existe uma grava falha de ligação mãe-bebê, mas não podemos afirmar se isso é a causa ou a consequência”, pontua a especialista.

    Ainda segundo a psicanalista, não é possível concluir que o caso dos religiosos em Sergipe se enquadra na situação citada acima, mas, segundo ela, se trata da descrição de um comportamento parecido.

    “A ideia é usar de uma possibilidade para alertar as pessoas formas de comportamento destrutivas na sociedade”, finalizou Petruska Passos.

    Silas Aguiar / Descontrair.com

    Fonte e fotos: Portal FanF1

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