Ivanete dos Santos Dias descobriu que estava grávida horas antes de cruzar ilegalmente a fronteira do México com os Estados Unidos em 2019. Mãe de um adolescente americano, conseguiu entrar no país. Já o marido foi preso e passou oito meses em condições subumanas até ser deportado ao Brasil. Hoje aos 37 anos, ela mora com os dois filhos em um abrigo americano e sonha com a boa vontade do governo Biden para reunir a família novamente
“Eu tinha 20 anos e morava com minha mãe em Sardoá, em Minas Gerais, quando decidi ir para os Estados Unidos pela primeira vez. Minha situação financeira estava bem difícil, uma pindaíba danada. Na época, em 2004, muitos amigos e dois dos meus irmãos moravam lá e viviam super bem. A vontade de ter uma vida melhor e dar uma melhor condição para minha mãe, que criou seus 11 filhos sozinha, me motivou. Decidi ir ao encontro deles.
Fiz a travessia com o auxílio de coiotes no México, na cara e na coragem. Paguei a eles 10 mil dólares, emprestados pelo meu irmão. Atravessei o rio que faz fronteira com o Texas em uma boia e me entreguei à imigração, é o chamado sistema ‘cai cai’. Depois de um dia e uma noite aguardando, eles fizeram a minha ficha, tiraram minha impressão digital e me liberaram. De lá peguei um ônibus e três dias depois cheguei a Boston, onde fui recebida por meus irmãos. Lá conheci meu ex-marido, um brasileiro que também vivia aqui, amigo deles. Logo depois engravidei do meu primeiro filho, Alan Victor.
Em abril de 2011 meu ex-marido foi parado no trânsito por dirigir com uma lanterna do carro quebrada. Detalhe: ele andava sem carteira de motorista pra cima e pra baixo e não tinha nenhum documento. Ele foi levado à corte e convidado a se retirar do país, por ser ilegal. Com a determinação do juiz, pegamos as nossas malas e um mês depois voltamos para nosso Brasil: eu, ele e nosso filho. Fomos morar em Ipatinga. Passei longos nove anos no Brasil, na maior dificuldade financeira, querendo voltar aos Estados Unidos, onde gostávamos de viver. Em 2015, me separei, depois de 12 anos de casamento.
No ano seguinte conheci o Marcelo e começamos a nos relacionar. Em 2018, o alto fluxo de pessoas atravessando a fronteira para entrar nos Estados Unidos aguçou ainda mais minha vontade de retornar. Em janeiro de 2019 comecei a trabalhar nesse sonho e no final de setembro eu, Marcelo e meu filho partimos para o México. No dia primeiro de outubro comecei a me sentir muito mal. Pensei que fosse por causa da comida, já que a culinária mexicana é muito apimentada e diferente da nossa. Tomei soro e pastilhas para desintoxicação alimentar, mas eu só piorava. Passei a ter febre e ânsia de vômito. Muito desconfiado, meu marido voltou à farmácia e trouxe um teste de gravidez. Deu positivo. Tremi na base de medo. Ali estava eu: grávida, passando muito mal, na fronteira dos Estados Unidos, prestes a tentar entrar no país pela segunda vez.
Silas Aguiar / @descontrair.com_oficial
Fonte: Marie Claire / Globo.com