No último dia 22 de fevereiro, uma manifestação de motoboys que realizam entregas alimentícias através de aplicativos chamou a atenção da população do bairro Farolândia. Por lá, o motoboy Rafael Leobino dos Santos, de 18 anos, foi agredido por um cliente que se recusou a pagar pelo pedido, alegando que só tinha cartão de crédito. Porém, ele não especificou a modalidade “cartão” no ato da compra.
Rafael foi amparado por moradores do condomínio, que se dispuseram a realizar uma forma de compensação devido ao dano causado pelo agressor. Além disso, ele também prestou Boletim de Ocorrência e deve ingressar com um processo judicial para que haja a devida punição.
A equipe de Reportagem do Portal Fan F1 decidiu ir mais a fundo e mergulhar na história de vida de Rafael Leobino. Por trás de um garoto que iniciou a vida adulta recentemente, uma trajetória marcada por dor e muito sofrimento.
Rafael era uma criança feliz até os seis anos de idade. Ele morava no bairro Santos Dumont com os avós maternos, a mãe e duas irmãs, uma de 4 e a outra de apenas 2 anos de idade.

“Desde pequeno eu sempre trabalhei, sempre ajudei minha avó. Meu pai eu não conheço. Morava eu, minha mãe, meu avô e minhas irmãs, uma família normal. Só que aí, depois de um tempo, minha mãe entrou no mundo das drogas e a partir dali a família foi se destruindo. Minha avó vendia peixe na feira e eu sempre ajudava ela. Meu avô sempre vendia churrasco e refrigerante”, conta Rafael.
A situação das crianças ficou ainda mais complicada após a morte dos avós. “Teve um dia que a gente estava no Pré-Caju e aconteceu uma coisa com o meu avô e que, infelizmente, levou ele. Um rapaz pediu gelo e a gente estava arrumando as coisas para ir embora, ele acabou achando ruim e jogou um paralelepípedo no meu avô, que quebrou a perna dele e com dois meses teve que fazer uma cirurgia e não resistiu. Minha avó era muito apegada a ele e sempre pedia para que Deus também levasse ela, até que ela pisou no mijo do rato, foi para o hospital e não queria mais comer e nem sair da cama, morrendo muito rápido”, diz Rafael de forma emocionada.
A partir daí, foi só sofrimento. A mãe, já entregue ao crack, decidiu vender os filhos para a irmã, que topou a negociação para tentar amenizar a dor das crianças. “A partir dali, minha mãe começou a vender tudo de dentro de casa para usar droga, o que tinha ela foi destruindo. Chegou um tempo que ela vendeu a gente para minha tia para sustentar o vício da droga. Minha tia pagou para que ela deixasse a gente morar com ela. Até que eu achei bom, porque minha tia cuidava da gente, dava comida. Só que com o tempo, ela pediu a gente de volta e minha tia para evitar confusão, devolveu. Eu estudava em escola particular, que meu avô era aposentado e minha avó tinha uma barraca de peixe. Depois que eles morreram, acabou tudo”, narrou o motoboy.
E continuou: “ela começou a se prostituir, começou a fazer certas coisas na frente da gente. Muitas vezes a gente tinha que ir para a rua para não ver. Ela trazia os homens para transar na nossa frente. Eu sentia raiva, tristeza e tinha medo do rapaz querer estuprar eu e minhas irmãs. A gente tinha que ir para a rua para não ver, muitas vezes a gente ficava nas esquinas esperando os homens sair. Ela usava crack na frente da gente. Minha mãe sempre foi gorda e quando começou a usar essa droga ficou magra parecendo um palito”.
Segundo o próprio Rafael, ele e as irmãs também eram obrigados a pedir dinheiro no semáforo e, caso chegassem sem nenhuma quantia, eram espancados pela genitora. Um dia, aos sete anos, o garoto foi trabalhar no Parque de Exposições, localizado no Conjunto Agamenon Magalhães, e acabou conhecendo um rapaz que o levou para casa.
“Fui ajudar ele em troca de roupa e de comida. Uma noite, disse a ele que não tinha para onde ir, ele ligou para a mãe e me levou para a casa dele. A mãe dele me deu banho, cortou meu cabelo, que eu estava imundo, parecia um morador de rua. Eu dormi por lá e quando foi no outro dia, ela entrou em contato com o Juizado de Menores, que foi me pegar e me levou para a Central de Acolhimento da Prefeitura, depois fui para o abrigo que ficava na Praça da Bandeira”, explica o motoboy.

Por lá, ele ficou pouco mais de dois anos, quando foi adotado pela senhora Silvânia. A essa altura, suas irmãs também já estavam no abrigo.
“Fiquei pouco mais de dois anos por lá. Foi aí que a assistente social procurou essa mulher, que é a minha mãe de criação, a Silvânia, para perguntar se ela queria me adotar. Ela começou a me pegar todo final de semana, até que o juiz liberou para que eu ficasse com ela de vez. Fiquei morando com ela até os 18 anos e fui seguir a minha vida”, diz o jovem.
Atualmente, a irmã que está com 16 anos foi adotada por uma família do município de Itabaianinha. Já a de 14 anos, continua em um abrigo no mesmo município em que a irmã reside. Já a mãe e todo o resto da família (tios e primos) vivem na cidade de Mauá, em São Paulo.
“Eu falo com minha mãe de vez em quando. Não tenho o contato como um filho deveria ter com uma mãe. Ela já me pediu perdão e disse que ali foi uma falha. Errar, todo mundo erra, isso é humano. Perdoei ela, não tenho raiva, queira ou não ela é a minha mãe. Não tenho saudade da minha infância, foi uma época muito sofrida. Foi uma infância que eu não fui criança, não tive esse negócio de brincar. Só foi tristeza”, acrescenta Rafael.
Ao fim da entrevista, questionado sobre o que ele acredita que seja a felicidade, Rafael é direto: “creio que um dia eu encontro essa felicidade. Ser feliz é ter uma família ao seu lado, que te dê apoio para o que der e vier. Para mim, isso é felicidade. Nunca tive amor, carinho e atenção, aliás, nem sei o que é isso. Sou sozinho no mundo, eu e Deus. Mas, tem gente que acredita em mim e me ajuda”.
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Silas Aguiar / Descontrair.com
Fonte: FanF1